Por Patrícia Tosta
Termina nesta sexta-feira (19), em Aparecida, São Paulo, a Sexagésima primeira Assembleia Geral da CNBB.
Embora o foco seja reunir os bispos, arcebispos e administradores diocesanos para refletir sobre a atuação da Igreja e sua ação pastoral e evangelizadora, a Assembleia Geral dos Bispos da Conferência Episcopal (CNBB) é um momento singular para aprofundar as diversas situações e urgências do cotidiano da vida da Igreja. Como as urgência pastorais e de evangelização vão além do Brasil, o encontro contou com a presença do secretário de estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, que lembrou a importante relação entre fé e vida: “Não podemos perder do senso da fé, muitas pessoas agem como se Deus não existisse e a grande questão é pensar, é exatamente essa coerência entre fé e vida“. Após esse momento o momento de introspecção do retiro, a Assembleia seguiu com a percepção dos fatos da sociedade.
No último dia 15 de abril, os participantes foram convidados a refletir sobre os impactos da inteligência Artificial (IA) na evangelização da Igreja Católica do Brasil. A mesa que tratou do tema foi composta pelo Presidente da Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC), Prof. Dr. Everton de Souza Oliveira, e pelo secretário do Instituto Nacional de Pastoral, Padre Alberto Antoniazzi (Inapaz), o padre Danilo Pinto dos Santos, que também é Diretor da Fundação Dom Avelar/Rede Excelsior de Comunicação e Sócio Fundador da SBCC. O padre Danilo por quase uma década assessora a Conferência Episcopal do Brasil. O sacerdote falou do entusiasmo em participar do evento podendo rever os bispos e assessores e destacou a importância do encontro: “É um trabalho exigente, mas muito bonito. São diferentes contextos de ser Igreja e de forma conjunta podemos discernir sobre diversos caminhos para o anuncio do Senhor Jesus Cristo”.
Neste ano de 2024, o padre Danilo Pinto pela primeira vez realizou uma conferência durante a Assembleia Geral. O padre ofereceu sua contribuição tratando da dimensão pastoral do uso da Inteligência Artificial. Evocando a mitologia grega, o padre questionou os limites da técnica lembrando a tragédia do Prometeu Acorrentado: “É permitido para nós fazer o fogo?”.
O texto de apoio apresentado aos bispos aborda, a partir da categoria do regime da informação apresentada pelo filósofo Byung-Chul Han, o impacto das inteligências artificiais em âmbitos pastorais específicos, a partir de alterações no ethos religioso católico. A personalização da experiência social foi um dos destaques feitos pelo secretário do Inapaz. “Quanto mais geramos dados, mais são consolidadas as informações acerca dos gostos e experiências pessoais sobre nós. A lógica algorítmica exclui o outro, fragmenta a percepção da realidade, determinando decisivamente processos pastorais”, destacou o sacerdote. Realidades como as bolhas de informação, radicalização das ideias, polarização e desinformação também foram apresentadas como alertas para a realidade cada vez mais avançada da IA.
Em sua conclusão, o professor Everthon falou sobre o desenvolvimento da IA e a sua capacidade de gerar conteúdo sem a intervenção humana, chamando atenção para a possibilidade de cognição equivalente ou maior que a nossa e o perigo da desumanização: “O risco que a gente corre agora é de não haver a formação moral, a base ética, num potencial tão grande que está distribuído”. Alguns dos pontos de atenção destacados pelo presidente da Sociedade dos Cientistas Católicos é a necessidade de uma regulação orientadora que não limite o desenvolvimento, mas que coloque os limites éticos em todas as etapas, desde o desenvolvimento até a comercialização. Outra necessidade no processo de evolução das IAs é a transparência na coleta de dados, na informação e na computação.
Dom Zanoni Demettino, arcebispo de Feira de Santana, Bahia, que também participa da Assembleia Geral, falou sobre a importância do “viver e conviver” e refletir sobre assuntos tão sérios da atualidade: “Esse é sim um momento de reencontro, mas sobretudo de partilha em todos os sentidos, isso é muito valioso e fortalece a comunhão da Igreja, pois todos tem a oportunidade de falar e podemos também exercitar a escuta. Esse tema tem grade relevância para o atual contexto, já que as inteligências artificiais são um paradigma tecnológico em desenvolvimento, com potencial para gerar mudanças socioculturais significativa”, afirmou dom Zanoni, que se mostrou agradecido pela abordagem do tema durante a edição 2024, da Assembleia dos Bispos.
“A inteligência artificial é uma realidade nova que pega a todos de surpreza e exige respostas adequadas. Precisamos ser protagonistas de um mundo de paz. As redes sociais e a inteligência artificial, pode ser um instrumento valiosos para a construção de um mundo melhor, mas pode também nos levar a alienação e a um mundo paralelo que ao invés de trazer vida pode trazer sofrimento. Essa foi uma valiosa reflexão e que exige ainda mais aprofundamento“, declarou.
Fonte: Pascom Brasil / CNBB